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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Estante de Porão: Especial - Gil Vicente

Estante de Porão: Especial - Gil Vicente:

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Especial - Gil Vicente

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Auto da Barca do Inferno

É um auto onde o barqueiro do inferno e o do céu esperam à margem os condenados e os agraciados. Os que morrem chegam e são acusados pelo Diabo e pelo Anjo, mas apenas o Anjo absolve. 
O primeiro a chegar é um Fidalgo, é seguido por um agiota, por um Parvo (bobo), por um sapateiro, por um frade, por uma cafetina, e um judeu, um juiz também vai, por um promotor, por um enforcado e por quatro cavaleiros. Um a um eles aproximam-se do Diabo, carregando o que na vida lhes pesou. Perguntam para onde vai a barca; ao saber que vai para o inferno ficam horrorizados e se dizem merecedores do Céu. Aproximam-se então do Anjo que os condena ao inferno por seus pecados. 
O Fidalgo, o Onzeneiro (agiota), o Sapateiro, o Frade (e sua amante), a Alcoviteira Brísida Vaz (cafetina e bruxa), o judeu, o Corregedor (juiz), o Procurador (promotor) e o enforcado são todos condenados ao inferno por seus pecados, que achavam pouco ou compensados por visitas a Igreja e esmolas. Apenas o Parvo é absolvido pelo Anjo. Os cavaleiros sequer são acusados, pois deram a vida pela Igreja. 
O texto do Auto é escrito em versos rimados, fundindo poesia e teatro, fazendo com que o texto, cheio de ironia, trocadilhos, metáforas e ritmo, flua naturalmente. Faz parte da trilogia dos Autos da Barca (do Inferno, do Purgatório, do Céu). 
Cada um dos personagens focalizados adentram a morte com seus instrumentos terrenos, são venais, inconscientes e por causa de seus pecados não atingem a Glória, a salvação eterna. Destaque deve ser feito à figura do Diabo, personagem vigorosa que conhece a arte de persuadir, é ágil no ataque, zomba, retruca, argumenta e penetra nas consciências humanas. Ao Diabo cabe denunciar os vícios e as fraquezas, sendo o personagem mais importante na crítica que Gil Vicente tece de sua época. 



Auto da Alma

A Alma passa por um dilema, de um lado o Diabo mostrando-lhe os prazeres da vida: as jóias, a riqueza, o poder. De outro lado, o Anjo lhe mostra ser necessária a sua salvação, pois era Alma pecadora, coberta de vaidade e que as coisas materiais nesta terra hão de ficar. Por ser uma Alma pecadora em alguns momentos de fraqueza e deslumbre ela acaba cedendo ao Diabo, mas com a persistência do Anjo em mostrar o caminho da salvação ela enfim o escuta e segue com o Anjo até a igreja, onde é recebida por Santo Agostinho, Santo Ambrósio, São Jerônimo e São Tomás com banquete e orações, exaltando assim a importância da igreja.


Auto da Feira

A peça tem prólogo, dito por Mercúrio, que, discreteando sôbre astronomia, usa de sentenças semelhantes às do prólogo da «Exortação da Guerra». No final, diz quem é e ao que vem: que por não conhecer na côrte de Portugal feira no dia de Natal, ordena ali uma, nomeando mercador-mor ao Tempo. Entra êste, anunciando várias mercadorias, entre elas a Justiça, a Verdade, a Paz, o Temor de Deus, etc. A seguir vem um Serafim e convida para a feira os mosteiros, as igrejas, os pastores de almas, «os papas adormidos», a quem exorta a que regressem à vida humilde e simples dos primitivos tempos da Igreja.
Aparece o Diabo, «como bufarinheiro», e gaba-se de que há de vender com tôda a facilidade a sua avariada mercadoria. Discute o assunto com o Tempo e com o Serafim.
Surge Roma, a Igreja, que vem comprar Paz, Verdade e Fé. Gil Vicente, pela boca do Diabo, dirige-lhe cruéis censuras e ataques.
Desenvolve-se depois uma scena de dois compadres lavradores, que, a caminho da feira, falam das respectivas mulheres, uma brava, outra mansa, mostrando-se cada um dêles descontente com a sua. Surgem as mulheres e censuram os respectivos maridos, cujos defeitos apontam. Chegam à feira. Como uma das mulheres pronuncia a palavra —Jesus—, o Diabo desaparece. Dirigindo-se ao Tempo e ao Serafim, preguntam por mercadorias várias e enjeitam as que esses vendedores apregoam, como consciência, virtude, etc.
Aparecem mais raparigas e rapazes, ordenam-se para feirar, e estabelece-se entre êles uma troca de ditos amorosos, que tornam animada a scena. Até que por fim todos cantam uma «folia» à Virgem em honra de quem se ordenara a feira.


Auto da Índia

A Ama está chorando, pois é comunicada da partida de seu marido para a Índia. O castelhano, pretendente galanteador, sabendo da partida do marido vai fazer uma visita à Constança. Esta se mostra relutante no início, mas logo aceita a companhia do castelhano e o convida a voltar mais tarde. O combinado é que ele deveria atirar pedrinhas na janela do quintal. Lemos, um antigo namorado ainda apaixonado por Contança, também vai visitá-la na mesma noite, fazendo com que esta tenha que contornar a situação, já que Lemos está dentro da casa e o castelhano, no quintal. Contança então diz a Lemos que quem está no quintal é o vinagreiro querendo receber o dinheiro que ela dizia; e ao castelhano ela diz para aguardar lá fora até seu ?irmão? ir embora. Finalmente ela se livra dos dois. Passados 3 anos, é anunciada a volta do amo, a que Contança reage pedindo a sua empregada que quebre a louça e jogue fora toda a comida, pois assim o marido não teria o que comer e partiria novamente. O marido chega e o casal começa a conversar. Contança diz a ele que durante sua ausência ela passara maus momentos, se sacrificando sem comer, rezando e zelando pelo seu bem estar; logo ela cobra fidelidade do marido. Quando ele conta sobre as riquezas da viagem à Índia, ela se acalma e decide ir verificar os tesouros que aguardavam por ela na nau, momento no qual a obra é finalizada.


Auto de Mofina Mendes

O auto inicia-se com o sermão do Frade. Este sermão cómico, num latim "macarrónico", apresenta o tema do auto e as personagens. Seguidamente é representada a Anunciação: a Virgem, cercada pelas suas damas de honor (Pobreza, Humildade, Fé e Prudência), recebe a visita do Anjo Gabriel que anuncia a sua gravidez.
Entre a Anunciação e o nascimento de Jesus surge a história pastoril de Mofina Mendes. Mofina, cujo nome significa "infelicidade", perde os animais que devia ter guardado. Mesmo assim, o pastor paga-lhe com um pote de azeite que Mofina Mendes acaba por deixar cair e partir. O pote quebrado funciona como um símbolo. Afinal, todos temos o nosso pote de azeite «que há-de dar consigo em terra».
O auto termina com o nascimento e a adoração ao Menino Jesus no Presépio.


Farsa ou Auto de Inês Pereira

A temática desta conhecida peça está profundamente ligada à realidade vivida pela sociedade portuguesa da época deGil Vicente: o desejo de ascensão social da pequena burguesia, que vê nocasamento numa forma de consegui-la, o oportunismo, o desprezo pela vida camponesa e o prestígio das maneiras cortesãs, a ignorância do rústico, emborarico camponês e sua ingenuidade, a falta de escrúpulos (núcleo da peça). Odesenvolvimento do capitalismo reforçou o poder do monarca e também provocou a decadênciada nobreza feudal. A riqueza vinda do comércio ultramarino tendia a ser a grandebase do prestígio social. A aristocracia dependia dessa riqueza e procuroudiminuir sua importância desprezando-a e valorizando a origem de sangue, a moral, aeducação, a fineza, as boas maneiras, a honra e a coragem, enfim os ideais cavalheirescos.E como a nobreza mesmo decadente, ainda conservava um grande prestígio social,acabou por impor o estereótipo do cavaleiro como modelo a que deviam aspirartodos aqueles que queriam pertencer de fato à classe superior. A burguesia (comércio efinanças) procurou imitar esse figurino com desejo de ascensão social. Passaramentão a imitar os nobres sonhando subir desta forma na escala social, mas isso se tornoucômico e ridículo. É mais ou menos o que acontece em Inês Pereira de GilVicente. Inês, jovem cansada de trabalhar, quer casar. Lianor Vaz lhe arranja um noivo, Pêro Marques, que ela recusa por ser falastrão (quer um maridodiscreto, mesmo que pobre). Então Latão e Vidal, dois judeus casamenteiros, lhearranjam o escudeiro Brás da Mata, com quem se casa. Brás é caloteiro e nuncapaga seu moço, Fernando. Logo após o casamento Brás vai para o Norte da Áfricatornar-se cavaleiro, mas é morto por um pastor mouro ao fugir da batalha. Livredeste casamento Inês se casa com Pêro Marques.


O Velho da Horta

Em O Velho da Horta, de 1512, Gil Vicente revela perfeito domínio do diálogo e grande poder de lidar com personagens e ações que se aproximam da comicidade. Utiliza pouco aparato cênico, colocando toda a ação Em um mesmo cenário (a horta) e os acontecimentos que se realizam fora da horta são referidos como fatos que vêm de fora. Todos os episódios têm uma única direção: o desfecho, e isso garante a unidade da peça.
O Velho da Horta  é uma peça de enredo, na qual se desenvolve uma ação contínua e encadeada, em torno de um episódio extraído da vida real, ou em torno de uma série  de episódios envolvendo uma personagem central, ou articulando uma ação dramática homogênea e completamente desenvolvida, com um travejamento mais complexo, com começo, meio e fim.
Gil Vicente é um criador de tipos. A linguagem do Velho é um arremedo da poesia palaciana. A linguagem da Moça é zombeteira e se contrapõe à do velho. A obra é uma peça de teatro escrita em versos.
O argumento gira em torno das desventuras de um homem já entrado nos anos e seu frustrado amor por uma jovem que vem à sua horta comprar verduras. Por meio do diálogo entre o velho e a jovem, Gil Vicente capta a crueza de uma situação que oscila entre o ridículo e o ilusório. O Velho apaixonado deixa-se levar por um amor imprudente e obcecado; a Moça, motivo dos sonhos do Velho, é irônica, sarcástica e retribui as declarações de amor com zombarias.
A cena inicial é marcada pela tentativa de conquista e o diálogo se dá entre o lirismo enamorado do Velho e os ditos zombeteiros da Moça. Em seguida, entra em cena uma alcoviteira que oferece seus préstimos profissionais para garantir ao Velho a posse da amada. Mediante promessas de que o êxito está próximo, a mulher extorque toda a riqueza do Velho. Finalmente, entra em cena a Justiça que prende a alcoviteira, mas retira do Velho a esperança de ver realizado tão louco amor. No final, vem a notícia de que a jovem que motivou tão tresloucada paixão casou-se.